Por que a geração atual não ouve uma música até o fim?

Olá, amantes de música. Tudo certinho?

Todos temos um parente, amigo ou conhecido da nova geração, não é mesmo? Já reparou na maneira como eles ouvem música? Entram no Spotify, escutam músicas diversas, mas não conseguem ouvir uma até o fim!

Esse comportamento não é por acaso. Isso é resultado da chamada “audição ansiosa”, sintoma de uma sociedade cada vez mais apressada e impaciente.

 

Quanto menos tempo, melhor

As pessoas estão menos dispostas o ouvir músicas longas, com solos de guitarra que parecem intermináveis e letras cheias de poesia. Bohemian Rapsody, Stairway to Heaven, Faroeste Caboclo e November Rain são exemplos de canções que não fariam sucesso de fossem lançadas hoje.

De acordo com um estudo realizado pelas plataformas de streaming de música Spotify, Deezer e Amazon Music, a nova geração acredita que músicas com 3 minutos já são longas demais.

 

 

7 em cada 10 pessoas não ouvem um álbum completo

Se não conseguem ouvir uma música até o fim, o que dizer de um álbum na íntegra…

Lá se foi o tempo em que ouvir música era um momento aguardado. Quantas vezes comprei um CD e passava o dia ansiosa para chegar em casa para ouvi-lo com calma e apreciá-lo. Admirar o encarte do álbum também fazia parte do processo. A primeira audição era uma espécie de “aquecimento”, já a segunda era para dar o veredito final: se ouviria mais 78 zilhões de vezes ou iria para a estante de vez (até hoje sou assim).

Segundo pesquisa publicada pela Music Week no Reino Unido, 73% das pessoas que utilizam a plataforma Deezer, nunca ouvem um álbum completo. As pessoas preferem criar playlists com as músicas favoritas e ouvi-las em modo aleatório.

 

A “audição ansiosa” dita novos sucessos

Segundo a pesquisadora e psicóloga Renata Borja, especializada em distúrbios de ansiedade, o mundo moderno nos faz crer de que precisamos estar sempre atualizados e isso é reforçado nas redes sociais, onde somos constantemente estimulados e temos acesso a diversos conteúdos em tempo real. “É algo que nos leva a desejar não perder nada, a querer fazer parte de todas as discussões, vendo e ouvindo tudo o que está disponível – como se isso fosse possível”, argumenta.

Um bom exemplo deste fenômeno é o fato de que algumas pessoas só conseguirem ouvir áudios no WhatsApp na velocidade 1,5x ou 2x, algo que ocorre também no Youtube e no Tik Tok.

 

Porque a maioria das pessoas não conseguem mais ouvir música como antes?

Lembra quando citei que ouvir um CD era um evento importante? Para os que são da geração ‘adolescência anos 90’, ouvir música da forma que citei era normal. Os amigos se reuniam para ouvir aquele álbum recém lançado do artista favorito, do início ao fim. Horas sem fim deitados na cama, com os clássicos diskmans (e depois iPods), ouvindo músicas até os ouvidos cansarem.

 

Modelo de Discman

O que aconteceu para não ser mais assim?

Segundo Orlan Almeida, engenheiro, especialista em tecnologia e transformação digital e amante de músicas tipo hi-end, (recomendo fortemente a leitura do texto dele), isso também tem a ver com a qualidade dos equipamentos. Ouvir música com um equipamento de baixa qualidade contribui muito para que a experiência musical seja ruim. Se você ouve uma música em fones de qualidade ruim, ao ouvir a mesma música em um fone top de linha, perceberá a diferença absurda. Eu já passei por essa experiência e desde então não ouço mais música em fones baratos.

“Infelizmente, o mercado está cheio de caixas de som mal feitas, com aquele som chapado, fruto de frequências médias exageradamente altas e graves, completamente sem controle. Claro que, para os amantes de músicas tipo o Funk brasileiro (e não estou criticando o gosto alheio) isso tudo será completamente ignorado, já que são músicas com vocais secos, com uma “cama” de graves ao fundo (a famosa batida). Por outro lado, se você coloca uma música como Shine On You Crazy Diamond do Pink Floyd, sua caixa vai começar a ressonar, vibrando estranho com alguns sons que, simplesmente, não estão na música. E para mim, amigo, isso é o fim!”, argumenta Orlan em seu texto.

 

Um bom equipamento de som é crucial para uma boa experiência ao ouvir música.

 

Orlan também fez um teste com um amigo: “peguei um desses meus amigos que reclamavam que não ouviam mais música e coloquei uma caixa de som de melhor qualidade em seu computador, sem alterar mais nada. Pedi a ele que executasse uma playlist na Deezer, com suas músicas preferidas. O resultado foi realmente impressionante – ele simplesmente começou a pular igual a um adolescente, como se tivesse reencontrado o elo perdido. Confesso que foi uma sensação gratificante!”

Com um equipamento de qualidade, você ouve a música pura, sem ruídos externos. Você percebe sempre um detalhe novo cada vez que ouve uma música, seja um instrumento ou uma alternância de voz. Você vai ter vontade de ouvir música como antes, ou para os mais jovens, vai fazer com que sua forma de ouvir música mude de vez. A experiência será incrível.

 

Tudo é comercial, a qualidade não importa mais

Hoje tudo tem que virar hit. Se a maioria dos consumidores das plataformas de streaming são jovens de até 25 anos, os artistas se adaptam. Hoje, um álbum ter mais de 10 músicas é raro. Os hits (as músicas “comerciais”) são de curta duração e apenas uma ou outra faixa do álbum ultrapassa os quatro minutos. O artista tem que conhecer bem o seu público, senão é logo esquecido.

É compreensível que as coisas mudem, e o mercado da música mudou muito desde a chegada da internet (quem lembra do Napster?), mas deixar de priorizar a qualidade para apenas ter sucesso é muito triste e desanimador para quem é um verdadeiro apreciador de música.

 

Música sempre o/

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